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Será que a Microsoft acabou de tomar uma nova “3RL” aqui no Brasil? Lá atrás, no Xbox 360, o famoso problema das três luzes vermelhas virou símbolo de uma geração que sofreu com falhas de hardware e deixou muita gente frustrada. Hoje, curiosamente, a sensação é parecida, só que o problema não está mais dentro do console, e sim no bolso do jogador. O aumento brutal do preço do Game Pass Ultimate, que praticamente dobrou e agora passa da casa dos R$ 1.400 por ano, pode ser visto como um erro tão grave quanto aquele. Se antes a falha era técnica, agora é estratégica, e o impacto pode ser devastador: jogadores abandonando o serviço, críticas se espalhando pela comunidade e a imagem da marca ficando cada vez mais arranhada.

O Xbox Game Pass sempre foi visto como um dos maiores trunfos da Microsoft na indústria dos games. Um serviço que oferecia jogos de lançamento no day one, uma biblioteca variada e custo-benefício difícil de bater. Porém, com o aumento recente e significativo nos preços do serviço (e dos consoles também), o que antes era sinônimo de acessibilidade agora está virando motivo de revolta entre jogadores, jornalistas e até influenciadores que historicamente eram próximos da marca. Confira os novos preços:

Redes sociais e fóruns foram inundados com reações negativas. Um dos destaques veio de Destin Legarie, ex-IGN, que declarou que seu Game Pass Ultimate havia expirado há dois meses e que, como pai com pouco tempo para jogar, não fazia sentido desembolsar 360 dólares por ano para manter a assinatura. Ele afirmou que prefere comprar jogos individualmente ou assinar serviços de forma pontual, chamando o novo preço de simplesmente inviável. Em uma enquete feita em seu canal, milhares de usuários confirmaram que estavam cancelando o serviço. Houve noticias que a página oficial de cancelamento do Game Pass apresentou instabilidade devido ao alto número de acessos.
Post de Destin no X

As críticas não ficaram restritas a influenciadores. A comunidade gamer também expressou sua insatisfação com memes e comparações irônicas. Esse clima de frustração tem levantado discussões maiores sobre o futuro do Game Pass e até especulações de que a Microsoft poderia estar preparando mudanças radicais no modelo do serviço algo que, se confirmado, poderia marcar o início do fim da assinatura como a conhecemos hoje.

O impacto vai além da Microsoft já que esse movimento abre espaço para que concorrentes como a PlayStation Plus voltem ao radar dos jogadores, que aqui no brasil fica por menos da metade do preço em sua versão mais cara, e isso não é necessariamente um mérito próprio, mas pela percepção de que a balança do custo-benefício mudou. Até pouco tempo atrás, o Game Pass era o serviço de assinatura mais “elogiado” do mercado, mas essa decisão pelo aumento de preço da Microsoft parece ter colocado essa liderança em xeque.

O aumento no preço do Xbox Game Pass não é apenas um ajuste comum de mercado, mas sim um sinal de algo muito mais grave. Para mim, isso pode ser interpretado como um grande alerta de que a indústria dos games está à beira do precipício (e não é de agora). Estamos vivendo em um modelo onde os custos de produção de um jogo AAA se tornaram insustentáveis, enquanto as empresas continuam presas à ideia de crescimento infinito, ano após ano, sempre tendo a ideia de “dobrar a meta” fiscal. Essa lógica de que o sucesso só é válido se houver um lucro interminável, sempre maior do que o do ciclo anterior, é absurda e inevitavelmente cria uma bolha prestes a estourar. O streaming, que foi vendido como a solução e o futuro dos games, segue a mesma lógica predatória de serviços como Netflix e Spotify: começa barato, acessível, conquista uma base fiel e, quando essa base se torna dependente, os preços disparam. O resultado é exatamente o que estamos vendo agora com o Game Pass — um serviço que já foi sinônimo de revolução, mas que hoje passa a ser apenas mais uma peça de um sistema doente, que exige crescimento exponencial em um mundo que tem limites reais.

Esse colapso não vem de decisões isoladas da Microsoft, da Sony ou da Nintendo, mas na minha visão de um sistema econômico que força todas as gigantes a correrem atrás de metas impossíveis, sacrificando não só os consumidores, mas também os próprios criadores de jogos. É a razão pela qual vemos estúdios fechando, demissões em massa e até franquias consagradas se tornando reféns de modelos de monetização agressivos. E aqui está a parte mais cruel: enquanto os custos sobem e a pressão aumenta, a promessa de acessibilidade e inovação fica cada vez mais distante. O Game Pass foi um respiro para muitos jogadores no Brasil, permitindo acesso a grandes jogos por um preço justo. Agora, com o valor dobrando, perde-se o diferencial e expõe-se o real problema: não existe modelo que sustente essa corrida sem fim por lucro. E isso é algo que inevitavelmente atinge todas as áreas da cultura digital — música, cinema, streaming e, claro, videogames. Estamos em um momento crítico, e talvez seja a hora de aceitar que o sistema precisa mudar antes que o próprio conceito de jogar videogame como conhecemos entre em colapso. Será que estamos diante de um novo Crash dos games? O tempo dirá.

A grande questão agora é: até onde os jogadores estão realmente dispostos a pagar para manter o acesso ao catálogo do Game Pass? As primeiras reações já mostram que muitos não vão aceitar esse aumento sem resistência, e uma onda de cancelamentos pode obrigar a Microsoft a repensar suas estratégias. No Brasil, a situação é ainda mais crítica: o plano Ultimate passa a custar mais de R$ 1.200 por ano, praticamente o valor de um salário mínimo apenas para jogar videogame de forma legal. Isso, por si só, é um absurdo. O que antes era a principal vantagem do Xbox no país, sendo a porta de entrada para muitos jogadores e a recomendação de quem buscava um console de entrada para a atual geração, agora se torna quase impossível de justificar com os novos preços. Com consoles cada vez mais caros e assinaturas que deixam de ser acessíveis, a plataforma perde o diferencial que a sustentava. E enquanto isso, toda a indústria observa de perto, porque o impacto desse movimento pode não só redefinir o futuro do Game Pass, mas também moldar os rumos dos serviços de assinatura em todo o mercado de games.